Teorema da categoria de Baire

Em matemática, sobretudo na análise funcional, o teorema da categoria de Baire ou apenas teorema de Baire fornece condições suficientes para estabelecer que determinado espaço topológico é um espaço de Baire, ou seja, um espaço de segunda categoria em si. Este resultado possui esse nome em homenagem ao matemático René-Louis Baire (1874 - 1932), onde em sua tese intitulada Sur les fonctions de variable réelles ("On the Functions of Real Variables"), trouxe a noção de conjunto magro e o resultado que leva seu nome.

Enunciado

  • Na teoria dos espaços métricos completos, o teorema de Baire possui os seguintes enunciados equivalentes:
  1. Se F = n = 1 F n {\displaystyle F=\bigcup \limits _{n=1}^{\infty }F_{n}} onde i n t ( F n ) = {\displaystyle int(F_{n})=\varnothing } , para todo n N {\displaystyle n\in \mathbb {N} } , então i n t ( F ) = {\displaystyle int(F)=\varnothing } ;
  2. Todo conjunto magro tem interior vazio;
  3. Se { A n } n n {\displaystyle \{A_{n}\}_{n\in \mathbb {n} }} é uma família de conjuntos abertos e densos então A = n = 1 A n {\displaystyle A=\bigcap \limits _{n=1}^{\infty }A_{n}} é denso em M.
  • Do ponto de vista topológico, podemos apresentar a seguinte formulação:
  1. Todo espaço localmente compacto de Hausdorff não vazio é um espaço de Baire.

Demonstração

Uma das demonstrações deste resultado, que se faz necessária a completude do espaço na qual estamos trabalhando é feita de forma construtiva. Sabendo que as afirmações citadas são equivalentes, apresentaremos a demonstração do item 3):

Seja { A n } n N {\displaystyle \{A_{n}\}_{n\in \mathbb {N} }} uma família de conjuntos abertos e densos de um espaço métrico completo M. Queremos mostrar que dada qualquer bola aberta B 1 {\displaystyle B_{1}} tem-se que A B 1 {\displaystyle A\cap B_{1}\neq \varnothing } . Assim, seja B 1 {\displaystyle B_{1}} uma bola aberta arbitrária, sendo A 1 {\displaystyle A_{1}} aberto e denso temos que A 1 B 1 {\displaystyle A_{1}\cap B_{1}} é aberto e não-vazio, desta forma existe r > 0 {\displaystyle r>0} tal que B r A 1 B 1 {\displaystyle B_{r}\subset A_{1}\cap B_{1}} . Tomando uma bola aberta B 2 {\displaystyle B_{2}} de raio menor que r {\displaystyle r} e menor ou igual a 1 2 {\displaystyle {\frac {1}{2}}} , temos que B 2 ¯ B r A 1 B 1 {\displaystyle {\overline {B_{2}}}\subset B_{r}\subset A_{1}\cap B_{1}} . Prosseguindo da mesma forma, obtemos uma B 3 {\displaystyle B_{3}} de raio menor que 1 3 {\displaystyle {\frac {1}{3}}} tal que B 3 ¯ A 2 B 2 {\displaystyle {\overline {B_{3}}}\subset A_{2}\cap B_{2}} e portanto para todo n {\displaystyle n} , temos que existe B n + 1 {\displaystyle B_{n+1}} tal que B n + 1 ¯ A n B n . {\displaystyle {\overline {B_{n+1}}}\subset A_{n}\cap B_{n}.}

Por construção, obtemos uma sequência decrescente B 1 ¯ B 2 ¯ . . . B n ¯ . . . {\displaystyle {\overline {B_{1}}}\supset {\overline {B_{2}}}\supset ...\supset {\overline {B_{n}}}\supset ...} com lim n d i a m ( B n ¯ ) = 0 {\displaystyle \lim \limits _{n\rightarrow \infty }diam({\overline {B_{n}}})=0} . Sendo M {\displaystyle M} completo, segue do caso geral do Teorema do encaixe de intervalos que n = 1 B n ¯ = { a } {\displaystyle \bigcap \limits _{n=1}^{\infty }{\overline {B_{n}}}=\{a\}} . Como, B n + 1 ¯ A n B n {\displaystyle {\overline {B_{n+1}}}\subset A_{n}\cap B_{n}} para todo n {\displaystyle n} e a B 1 {\displaystyle a\in B_{1}} , segue que A B 1 {\displaystyle A\cap B_{1}\neq \varnothing } .

Consequência

Uma consequência direta do teorema de Baire é a seguinte:

  • Seja M {\displaystyle M} um espaço métrico completo. Se M = n = 1 F n {\displaystyle M=\bigcup \limits _{n=1}^{\infty }F_{n}} enumerável onde cada F n {\displaystyle F_{n}} é fechado em M {\displaystyle M} , então existe pelo menos um n {\displaystyle n} , tal que i n t F n {\displaystyle intF_{n}\neq \varnothing } .

Aplicações

O teorema de Baire é um importante resultado na matemática, principalmente na análise devido ao seu grande número de consequências. Abaixo apresentaremos algumas de suas aplicações:

  • A reta real R {\displaystyle \mathbb {R} } é não-enumerável.

A demonstração deste fato é bastante simples, e segue abaixo: Suponha que R {\displaystyle \mathbb {R} } seja enumerável, então R = n = 1 r n {\displaystyle \mathbb {R} =\bigcup \limits _{n=1}^{\infty }r_{n}} , isto é, podemos escrever R {\displaystyle \mathbb {R} } como sendo a reunião enumerável de seus pontos que são claramente fechados em R {\displaystyle \mathbb {R} } . Segue então do corolário do teorema de Baire que existe n 0 N {\displaystyle n_{0}\in \mathbb {N} } tal que um dos pontos de R {\displaystyle \mathbb {R} } tem interior não-vazio, o que é um absurdo.

  • Seja I = [ a , b ] {\displaystyle I=[a,b]} um intervalo e C = C 0 ( I , R ) {\displaystyle C={\mathcal {C}}_{0}(I,\mathbb {R} )} o conjunto das aplicações limitadas f : I R {\displaystyle f:I\rightarrow \mathbb {R} } com a métrica da convergência uniforme d ( f , g ) = sup x I | f ( x ) g ( x ) | {\displaystyle d(f,g)=\sup \limits _{x\in I}|f(x)-g(x)|} . O conjunto B = { f C 0 ( I , R ) | f p o s s u i d e r i v a d a e m a l g u m p o n t o d e I } {\displaystyle B=\{f\in C_{0}(I,\mathbb {R} )\;|\;f\;possui\;derivada\;em\;algum\;ponto\;de\;I\}} é magro em C 0 ( I , R ) {\displaystyle {\mathcal {C}}_{0}(I,\mathbb {R} )} , ou seja, o conjunto das funções f C 0 ( I , R ) {\displaystyle f\in {\mathcal {C}}_{0}(I,\mathbb {R} )} que não possuem derivada em ponto algum de I {\displaystyle I} contém uma interseção enumerável de abertos densos em C 0 ( I , R ) {\displaystyle {\mathcal {C}}_{0}(I,\mathbb {R} )} . De maneira intuitiva, este resultado garante que existem mais funções contínuas que não possuem derivada em ponto algum de I {\displaystyle I} do que as que possuem.
  • Seja M , N {\displaystyle M,N} espaços métricos e ( f n ) n N {\displaystyle (f_{n})_{n\in \mathbb {N} }} uma sequência de aplicações contínuas tal que f n : M N {\displaystyle f_{n}:M\rightarrow N} converge para f : M N {\displaystyle f:M\rightarrow N} simplesmente. Se M é completo então o conjunto dos pontos de descontinuidades de f {\displaystyle f} é magro em M {\displaystyle M} .

Na análise funcional:

  • Portal da matemática
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Referências

  • LIMA, Elon Lages. Espaços Métricos. Rio de Janeiro. Editora Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2003.