Práticas corporais

As práticas corporais são conhecimentos e repertório produzidos pela humanidade. Constituem-se como manifestações humanas e práticas sociais, de natureza complexa, histórica e heterogênea, tais como os jogos, danças, ginásticas, esportes, artes marciais, acrobacias, brincadeiras, práticas corporais de aventura, entre outras[1]. Nesse caso, as manifestações mencionadas integram o acervo daquilo que vem sendo chamado de cultura corporal.

Alguns estudiosos sugerem que o termo pode derivar da noção de técnicas corporais, como identificadas e categorizadas pelo antropólogo Marcel Mauss na passagem do século XIX para o século XX. Sabe-se que o termo está ligado a sociologia do corpo. É percebido também como uma forma de linguagem e expressão de determinado grupo, quando se destacam os aspectos sociais e subjetivos, os quais são atribuídos pelos praticantes e pela realidade social, dando distintos sentidos: recreativo; esportivo; cultural; e cotidiano[1]. Como práxis, elas compõem o processo de formação e reprodução humana, que, por sua vez, assume a forma de atividades imitativas/ reiterativas e criadoras/ reflexivas.

Atualmente, no Brasil, o termo é utilizado por diversos campos do conhecimento, em especial a partir da década de 1990. Seu uso sugere uma ampliação conceitual do entendimento orgânico e biofisiológico que as ciências naturais e moderna historicamente atribuíram ao ser humano. Ao aproximar-se dos conhecimentos das ciências sociais e humanas, da arte, da filosofia e dos saberes populares, o termo práticas corporais reconhece às dimensões culturais, sociais e subjetivas que constituem tais práticas como necessidade social do processo de humanização[2].

Estudos do campo da Educação Física e da Ciências do Esporte apontam um reconhecimento e interesse da população na atualidade pelas práticas corporais. A centralidade do corpo, sua subserviência e vitimização caracterizam um intenso processo de mercadorização e esportivização das práticas corporais em uma sociedade baseada no modo de produção capitalista e de mercado. Capturadas pela indústria cultural, as práticas corporais aprisionadas pelo culto ao corpo instituem-se, em especial, nas juventudes modelos e estereótipos de beleza difundidos pelas mídias sociais. Esses elementos atravessam as diferentes práticas de educação corporal na sociedade, as políticas sociais de esporte, lazer, cultura e saúde apontando para a necessidade de um olhar crítico, de perspectiva interdisciplinar que compreenda as práticas corporais como processos fundamentais de formação e emancipação humana[3]. As práticas corporais são tematizadas pedadogicamente no currículo da Educação Física na escola e estão presentes na Base Nacional Comum Curricular[1]. Assim como são objetos de pesquisa no campo acadêmico da Educação Física e das Ciências do Esporte.

Práticas Corporais no campo da saúde

As práticas corporais são consideradas um dos temas prioritários da Política Nacional de Promoção da Saúde[4]. Elas integram, portanto, ações de promoção que buscam intencionalmente responder necessidades ampliadas de saúde pactuadas e planejadas, preferencialmente, em equipes multiprofissionais. Destaca-se que esta intencionalidade é mediada pela natureza e por normas coletivas, ou seja, pela história natural e social do corpo humano. As práticas corporais, entendidas como trabalho em saúde, não se esgotam na sua fruição, aconselhamento e divulgação, senão constituem parte de estratégias de cuidado e de melhoria das condições dos espaços públicos, fortalecimento da participação comunitária e controle social.

No campo da saúde, o relatório Dawson - marco da Atenção Primária como política ordenadora do cuidado em sistemas de saúde - já reconhecia em 1920 a chamada “cultura física” como “necessidade vital para a saúde da nação”. Atualmente, o termo "práticas corporais" identifica um movimento contra-hegemônico que reúne diferentes perspectivas e pensadores que se opõem ao modelo biomédico, frequentemente representado pela acepção clássica de atividade física, em um processo complexo, permeado por disputas e tensões enraizadas em diversas concepções de mundo e sociedade.

As práticas corporais integrativas, vinculadas ao campo da práticas integrativas e complementares (PICs), são práticas terapêuticas inseridas no Sistema Único de Saúde brasileiro[5]. Elas compõem um conjunto amplo de práticas de saúde e possuem como elemento comum o movimento corporal. Manifestações de diferentes tradições culturais como yoga, tai chi chuan, meditação, assim como outras práticas de origem ocidental, como antiginástica, eutonia, bioenergética, rolfing e método Feldenkrais integram esse conjunto heterogêneo de práticas, saberes e cuidado em saúde[6]. As práticas corporais integrativas embasam-se no paradigma da vitalidade; envolvem movimentos corporais que agregam diferentes técnicas, sequências rítmicas ou posturas de permanência, valorizam a introspecção e a qualidade de presença; estimulam as pessoas a descobrirem os limites e potencialidades do corpo; e promovem impactos individuais e coletivos no processo saúde-doença[7] .

"Práticas corporais" é um termo alternativo de Descritor em Ciências da Saúde (DeCS/MeSH) para indexação científica. Ou seja, ele é usado na pesquisa e recuperação de artigos de revistas científicas e outras fontes de informação disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)[8].

Referências

  1. a b c BRASIL (2018). Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília.
  2. Filho, Ari Lazzarotti; Silva, Ana Marcia; Antunes, Priscilla de Cesaro; Silva, Ana Paula Salles da; Leite, Jaciara Oliveira (2010). «O TERMO PRÁTICAS CORPORAIS NA LITERATURA CIENTÍFICA BRASILEIRA E SUA REPERCUSSÃO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA». Movimento (1): 11–29. ISSN 1982-8918. doi:10.22456/1982-8918.9000. Consultado em 1 de agosto de 2024 
  3. Silva, Ana Marcia (8 de novembro de 2005). Práticas Corporais. Iara Regina Damiani. [S.l.]: Letra D'água 
  4. BRASIL (2018). Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Brasília.
  5. Brasil (2015). «Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (PNPIC)». Ministério da Saúde 
  6. Antunes; Martinez; Fraga, Priscilla, Jéssica, Alex (janeiro a dezembro de 2023). «Práticas corporais integrativas: reflexões conceituais e metodológicas no campo da Educação Física e saúde». UFRGS. Movimento: p. e29017. Consultado em 01 de agosto de 2024  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda) !CS1 manut: Texto extra (link) !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
  7. Antunes, Priscilla de Cesaro; Fraga, Alex Branco (27 de setembro de 2021). «Práticas corporais integrativas: proposta conceitual para o campo das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde». Ciência & Saúde Coletiva: 4217–4232. ISSN 1413-8123. doi:10.1590/1413-81232021269.14082020. Consultado em 1 de agosto de 2024 
  8. BVS. «Descritores em Ciências da Saúde»