Lar de Maravilhas
Lar de Maravilhas | |||||||
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Álbum de estúdio de Casa das Máquinas | |||||||
Lançamento | setembro de 1975 (1975-09) | ||||||
Gravação | 1975 | ||||||
Estúdio(s) | Vice-Versa, em São Paulo | ||||||
Gênero(s) |
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Duração | 43:41 | ||||||
Idioma(s) | Português | ||||||
Formato(s) |
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Gravadora(s) | Som Livre | ||||||
Produção | Netinho | ||||||
Cronologia de Álbuns de estúdio por Casa das Máquinas | |||||||
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Lar de Maravilhas é o segundo álbum de estúdio da banda brasileira Casa das Máquinas, lançado pela gravadora Som Livre, em setembro de 1975 e gravado nos estúdios Vice-Versa, em São Paulo, no mesmo ano. Neste disco, o grupo adota a orientação do rock progressivo, com a existência de rock e hard rock em quantidades menores. Na parte lírica, as canções abordam temas típicos do movimento contracultural e da cultura hippie, especialmente o desejo de libertação - ainda que apenas espiritual - e a procura por um lugar - idílico e utópico - em que esta libertação possa se dar. A partir da década de 1990, o álbum foi sucessivamente relançado em CD e LP.
Antecedentes
Após o lançamento do álbum de estreia, a banda sai em turnê pelo país aproveitando a estrutura que Netinho havia adquirido de Os Incríveis após o fim daquela banda.[1][2] Ao fim da turnê, Pique Riverte comunica aos outros integrantes que está saindo do grupo e Netinho começa a busca por um substituto. Ao assistir um ensaio da banda de seu irmão - Os Botões, que acompanhavam Dave Maclean, o baterista resolve convidar o tecladista daquele grupo e seu irmão para se juntarem à banda.[3] No Brasil, apenas a banda de apoio de Roberto Carlos - a RC-7 - havia tocado com dois bateristas durante a "fase soul" do cantor, no início dos anos 1970.[4] O Casa justificou a adição de outro baterista para aumentar o peso da banda e permitir uma maior participação dos bateristas nos vocais de apoio.[5] Com isto, a banda repetia a inovação de outros grupos de rock internacionais, como a The Allman Brothers Band e o Grateful Dead, que se inspiraram na banda de apoio de James Brown, o The J.B.'s.[6] Também, é neste disco que se inicia a participação de Catalau como letrista na banda. Jovem de apenas 16 anos, ele havia conhecido Netinho que descobriu o potencial de letrista no adolescente que, pouco mais de uma década depois, seria vocalista do grupo Golpe de Estado.[7][8][9]
Resenha musical
Neste álbum, a sonoridade apresenta mudanças com menos presença de rock e hard rock e um papel central do rock progressivo, que possibilita transcender os limites da canção (esquema estrofe-refrão) e fundir diversos ritmos ao rock - como música clássica, MPB e folk, além de as canções apresentarem mudanças de andamento e partes instrumentais. O lado A abre com "Vou Morar no Ar", uma canção que tem como temática a busca por liberdade em uma época marcada por autoritarismo. Em seguida, "Lar de Maravilhas" canta a busca por um lugar utópico para a realização da iberdade buscada - tanto através do pensamento, de sonhos ou de viagens lisérgicas. "Liberdade Espacial" e "Astralização" trazem o tema de uma necessária purificação espiritual para poder transcender a situação autoritária que era vivida. Fechando o primeiro lado, "Cilindro Cônico" traz uma crítica à complexidade destruidora e autoritária do mundo moderno que não permite alternativas - tendendo ao totalitarismo tecnicista, como em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley - e, com isso, tolhe a liberdade.[10][11] O Lado B abre com "Vale Verde" que retorna ao tema da busca de um lugar alternativo, idílico, que supere a destruição da técnica, em um ecologismo típico do movimento contracultural. Em seguida, "Raios de Lua" é uma balada. "Epidemia de Rock" destoa um pouco dos temas do álbum, sendo uma canção de elogio ao estilo musical. Fechando o disco, temos um discurso em tom espiritualista em "O Sol" - com a voz de Netinho - e uma parte instrumental, em "Reflexo Ativo".[10][11]
Recepção
Gravação, produção e lançamento
As gravações se deram nos estúdios Vice-Versa, em São Paulo, durante o ano de 1975, com Netinho produzindo a banda, e o álbum foi lançado pela gravadora Som Livre em setembro do mesmo ano.[5] Para promover o disco, a gravadora lançou um compacto duplo da banda - dividido com artistas internacionais e Moraes Moreira - com a canção "Vou Morar no Ar".[12] Em novembro, o álbum já tinha ultrapassado a faixa de 10 mil cópias vendidas. A turnê que se seguiu ao disco foi feita com Piska revezando entre guitarra e baixo, já que Cargê saiu logo após o lançamento.[5]
Recepção da crítica
Críticas profissionais | |
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Avaliações da crítica | |
Fonte | Avaliação |
Folha de S.Paulo | Positiva[13] |
Revista Pop | Negativa[14] |
Jornal O Povo | Positiva[15] |
Carlos Gouvêa, escrevendo para a Folha de S.Paulo, comenta que achou o disco excelente e ressalta a diferença entre este álbum e o primeiro - comparando também com a carreira de Netinho em Os Incríveis - e elogiando a qualidade ténica do disco e a performance dos músicos. O jornalista que faz a crítica para a Revista Pop assevera que nada que o disco traz é novidade: a mensagem já foi dita; o instrumental não escapa dos clichês do estilo musical, com citações a grupos internacionais e até ao nacional O Terço. Sendo assim, classifica o álbum como de consumo fácil e garantido; um disco de "rock radiofônico". Marcos Sampaio, escrevendo para o Jornal O Povo, ressalta três assuntos que andavam junto nesta época e permeiam o disco: ousadia, psicodelia e LSD. Destaca a forte presença dos teclados e a orientação progressiva do som, bem como a temática hippie e contracultural das letras.
Relançamentos
O álbum foi relançado em CD em meados da década de 1990 e em 2015, pela Som Livre. Em 2018, a Polysom relançou-o em disco de vinil.[2]
Faixas
Lado A | |||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | ||||||
1. | "Vou Morar no Ar" | Netinho / Aroldo Santarosa / Cargê | 3:36 | ||||||
2. | "Lar de Maravilhas" | Netinho / Aroldo Santarosa / Piska / Cargê | 6:15 | ||||||
3. | "Liberdade Espacial" | Netinho / Cargê / Catalau | 2:20 | ||||||
4. | "Astralização" | Netinho / Piska | 5:30 | ||||||
5. | "Cilindro Cônico" | Netinho / Cargê | 5:09 |
Lado B | |||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | ||||||
6. | "Vale Verde" | Netinho / Piska | 6:55 | ||||||
7. | "Raios de Lua" | Netinho / Piska / Catalau | 3:00 | ||||||
8. | "Epidemia de Rock" | Netinho / Aroldo Santarosa / Catalau | 3:00 | ||||||
9. | "O Sol" "Reflexo Ativo" | Aroldo Santarosa / Netinho / Cargê Piska | 7:56 | ||||||
Duração total: | 43:41 |
Créditos
Créditos dados pelo Discogs.[16]
Músicos
- Aroldo Santarosa: vocal, guitarra e violão
- Piska: guitarra, guitarra de doze cordas, órgão Yamaha baixo e violão
- Mário Testoni Júnior: órgão Hammond, órgão Yamaha, clavinete, moog, mellotron, piano de cauda e piano Fender
- Cargê: vocal, baixo e contrabaixo
- Mário Franco Thomaz: bateria, percussão e vocais
- Netinho:bateria, percussão e voz falada
Ficha Técnica
- Coordenação geral: João Araújo
- Produção: Netinho
- Arranjos: Casa das Máquinas
- Direção de estúdio: Otávio Augusto
- Técnicos de som: Marcos Vinícius, Wilson e Renato
- Fotos: Paulinho Veiga
- Desenho e arte: Grão-comunicação visual
Referências
- ↑ Saggiorato 2008, p. 118
- ↑ a b Ricardo Seelig (18 de maio de 2020). «Casa das Máquinas: discografia comentada da lenda do rock brasileiro». Whiplash.net. Consultado em 18 de maio de 2020
- ↑ Daniel Seabra (21 de outubro de 2015). «Banda histórica do rock nacional, Casa das Máquinas volta a BH neste sábado». Uai. Consultado em 16 de maio de 2020
- ↑ «Roberto Carlos 50 anos de carreira: Um romântico amante do soul». M de Mulher. 8 de novembro de 2016. Consultado em 18 de maio de 2020
- ↑ a b c Revista Pop 1975a
- ↑ JD Nash (27 de novembro de 2017). «Why Did James Brown Have Two Drummers? (and what bands have Double Drums)». American Blues Scene. Consultado em 18 de maio de 2020
- ↑ Rodrigo França (7 de janeiro de 1998). «The Krents e Catalau tocam rock básico». Folha de S.Paulo. Consultado em 18 de maio de 2020
- ↑ Juca Guimarães (21 de outubro de 2016). «Após 20 anos de separação, Catalau volta ao palco com o Golpe de Estado». R7. Consultado em 18 de maio de 2020
- ↑ Adriana de Barros (9 de junho de 2017). «Agora pastor, Catalau reencontra Golpe de Estado para gravar CD ao vivo». Uol. Consultado em 18 de maio de 2020
- ↑ a b Saggiorato 2008, pp. 121-125
- ↑ a b Resende 2018, pp. 97-98
- ↑ «Duplão Duplão». Discogs. N.d. Consultado em 18 de maio de 2020
- ↑ Gouvêa 1975
- ↑ Revista Pop 1975b
- ↑ Marcos Sampaio (1 de março de 2013). «Música em Cores: Lar das Maravilhas (1975)». Jornal O Povo. Consultado em 19 de maio de 2020
- ↑ «Casa das Máquinas - Lar de Maravilhas». Discogs. N.d. Consultado em 19 de maio de 2020
Bibliografia
- Revista Pop (1975a). Casa das Máquinas: um grupo a todo vapor. São Paulo: Revista Pop, novembro de 1975, pp. 62-63.
- Revista Pop (1975b). Em cartaz. São Paulo: Revista Pop, novembro de 1975, p. 14.
- Gouvêa, Carlos A. (1975). Casa das Máquinas, uma boa surpresa. São Paulo: Folha de S.Paulo, 24 de novembro de 1975, p. 22.
- Resende, Vítor Henrique de (2018). Rock brasileiro e romantismo contracultural no Brasil: campo, cidade, música e modernidade nos anos 1970 Tese de doutorado ed. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais
- Saggiorato, Alexandre (2008). Anos de chumbo: rock e repressão durante o AI-5 Dissertação de mestrado ed. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo
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