Capacete Brodie

Um capacete M1917 do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.
Um soldado norueguês durante a segunda guerra mundial com seu capacete Brodie.

O capacete Brodie (em inglês: Brodie helmet) é um capacete de combate de aço desenhado e patenteado em Londres em 1915 pelo inventor letão John Leopold Brodie (em letão: Leopolds Janno Braude). Os britânicos e suas tropas coloniais (como a ANZAC) utilizaram este capacete extensivamente durante a Primeira Guerra Mundial, assim como os Estados Unidos. Sua versão modificada do Exército Britânico é chamada Mark I e no Exército dos Estados Unidos ficou conhecido como M1917, mas era coloquialmente chamado de capacete shrapnel, capacete Tommy, chapéu de lata , chapéu côco e capacete doughboy.[1] Também era conhecido como chapéu de bacia de louça, chapéu de panela de lata, bacia-lavatório e capacete Kelly. O exército alemão o chamava de Salatschüssel (tigela de salada).[2] Cerca de 9 milhões desses capacetes foram produzidos durante a Primeira Grande Guerra.

O Reino Unido e as forças do seu império utilizaram este capacete novamente na Segunda Guerra Mundial, usando, a partir de 1944, a nova versão Mk III. Já os Estados Unidos começou a introduzir o novo capacete M1 em 1941.[2]

Antecedentes

No início da Primeira Guerra Mundial, nenhum dos combatentes forneceu capacetes de aço para suas tropas. Soldados da maioria das nações iam para a batalha usando chapéus de pano, feltro ou couro que não ofereciam proteção contra armas modernas. O capacete alemão Pickelhaube era feito de couro e ferro, incluindo um espigão, mas não apresentava proteção contra estilhaços.[3]

O grande número de ferimentos letais na cabeça que as armas de artilharia modernas infligiram aos exércitos levou à introdução do capacete de aço.[4] O Exército Francês foi o primeiro a introduzir capacetes de aço modernos no verão de 1915.[5] Os primeiros capacetes franceses eram servillières de aço em formato de tigela, usados ​​sob os gorros de pano. Esses capacetes rudimentares foram logo substituídos pelo capacete Adrian Modelo 1915, projetado pelo Coronel August-Louis Adrian.[6][7]

O capacete Brodie foi o primeiro capacete de combate distribuído a todos os soldados britânicos e da Commonwealth durante a Grande Guerra.[8] Em setembro de 1915, um desenho patenteado por John Brodie foi selecionado como proteção de cabeça padrão do Exército Britânico. O modelo poderia ser cortado de uma única folha de aço e então prensado, tornando o capacete mais forte e mais fácil de produzir.[8] Esses capacetes foram aprovados para serviço em 15 de maio de 1916, e o primeiro milhão de capacetes Brodie foi distribuído no verão de 1916. Foi o primeiro capacete dado a todos os soldados em serviço nos exércitos britânico e da Comunidade Britânica, independentemente da patente.[8] Seria adotado também pela Força Expedicionária Americana (AEF) depois que os Estados Unidos entraram na guerra em 1917.[9]

Apelidos

O capacete Brodie recebeu vários apelidos:[10]

Original Em português País Detalhes
Shrapnel helmet Capacete de estilhaços Reino Unido
Battle bowler Chapéu côco de batalha Reino Unido
Tommy helmet Capacete Tommy Reino Unido Tommy é o apelido do soldado britânico
Tin hat Chapéu de lata Reino Unido
Dishpan hat Chapéu de bacia de louça Estados Unidos
Doughboy helmet Capacete Doughboy Estados Unidos Doughboy era o apelido do soldado americano
Tin pan hat Chapéu de panela de lata Estados Unidos
Wash basin Bacia-lavatório Estados Unidos
Battle bowler Chapéu côco de batalha Estados Unidos Apenas quando usado por oficiais
Kelly helmet Capacete Kelly Estados Unidos
Salatschüssel Tigela de salada Alemanha

Características

Capacete Brodie usado por uma militar judia do Corpo Feminino A.T.S. no Mandato Britânico da Palestina, em 7 de abril de 1942.

O Brodie Mark I é um capacete de aço em formato de tigela, pintado de verde, com aba larga de construção simples prensada e com acabamento em viés.[11] Inicialmente feito de aço macio, foi rapidamente reconhecido que o aço manganês Hadfield — um aço austenítico contendo 13% de manganês e 1,2% de carbono, patenteado em 1883 — ofereceria proteção balística significativamente melhor.[12] O aço manganês Hadfield exibe efeitos de endurecimento por deformação muito pronunciados; embora normalmente macio e dúctil, ele rapidamente se torna muito forte e duro quando é impactado ou submetido a deformação plástica. O aço Hadfield também é, como todos os aços austeníticos, não-magnético, de modo a não interferir em bússolas.[12]

O Brodie tem uma aba de 2 pol (5cm) de largura que protegia a cabeça e os ombros de estilhaços vindos de cima.[8][12] Tinha a desvantagem de não proteger o pescoço e a parte inferior da cabeça do soldado, além de também refletir a luz, o que poderia revelar posições em situação de combate. Isso foi remediado pintando-o de verde cáqui claro e adicionando uma cobertura com serragem e cortiça, dando-lhe uma superfície opaca e não-reflexiva.[8] O Brodie tinha 0,9mm de espessura e pesava aproximadamente 1,3 libras (589g) no total. No geral, ele lembra muito o chapéu de chaleira medieval ou chapel de fer.[12]

O forro é do padrão MK I, composto por uma construção de duas partes: uma almofada oval de gaze, amianto e feltro e uma faixa de cabeça sem lingueta de tecido americano acolchoada com algodão, fiapos e lona (na parte inferior) e presa a um suporte de faixa de cabeça de rede. Um complexo sistema de jugular no queixo de couro é encaixado na parte superior da almofada oval e passa por ambos os lados do forro, sendo passado por dois fardos de arame retangulares, um de cada lado do aro, e acoplado a uma segunda tira que é a tira de queixo propriamente dita, que apresenta uma fivela de metal de um único pino. Na parte externa deste suporte - entre o suporte do crânio e o casco do capacete - é fixada uma série de 12 amortecedores de borracha em forma de tubo. Todo o revestimento de duas peças e a almofada são presos firmemente à coroa do casco do capacete por um único rebite de cobre que passa pela tira de couro e pela almofada.[11]

Em meados de 1916, havia diversas variações no formato e na fabricação do capacete de aço Mark I, incluindo um com uma tigela estriada.[13] Capas de tecido para capacetes foram amplamente utilizadas mesmo após a introdução da tinta texturizada e não-reflexiva. As capas eram feitas de estopa, tecido ou qualquer material disponível. Um cordão ajustável foi adicionado para prender a capa sobre o capacete.[13] No início de 1917, o Capitão Richard R Cruise, do Corpo Médico Real do Exército, criou um véu ou cortina de cota de malha para ser preso ao capacete, de modo a evitar que os soldados ficassem cegos por estilhaços.[13] Diferentemente do domo completo do Adrian ou do Stahlhelm, o capacete projetado pelos britânicos era mais raso. Seu sistema de suspensão ajustável era de desenho convencional, sendo feito de couro e tecido tratado.[14] Mais de 7,5 milhões de capacetes Brodie foram produzidos e continuaram a servir, com pequenas modificações e melhorias, até a Segunda Guerra Mundial.[14]

Ver também

Referências

  1. «Brodie's Steel Helmet, War Office Pattern». The Brodie Helmet and its derivatives. 2015. Consultado em 9 de setembro de 2017 
  2. a b Reynosa, Mark A. (1997). «The Model 1917 U.S. Helmet». U.S. Combat Helmets of the 20th Century: Mass Production. Col: Schiffer military/aviation history (em inglês). Atglen, Pensilvânia: Schiffer Publishing. p. 8-11. ISBN 978-0764303579. OCLC 38071845 
  3. Editor (27 de maio de 2012). «The 'Pickelhaube' — A Brief History of WW1 Germany's Iconic Spiked Helmet». MilitaryHistoryNow.com (em inglês). Consultado em 4 de agosto de 2024 
  4. «Croatian Infantry Helmets». Military Headgear (em inglês). Consultado em 4 de agosto de 2024. Arquivado do original em 14 de julho de 2011 
  5. Suciu, Peter (8 de novembro de 2019). «The first modern steel combat helmet: the French 'Adrian'». Military Trader/Vehicles (em inglês). Consultado em 4 de agosto de 2024 
  6. Bélanger, Adrien (2008). La Grande guerre: chronologie, plans, cartes, illustrations, annotations sur l'armée, la troupe, les batailles, le matériel, les armes, etc. en parallèle de la transcription des extraordinaires journaux de guerre d'Adrien Amalric (em francês). Domérat: A. Bélanger. p. 268. ISBN 978-2-9523027-3-9 
  7. Fombaron, Christophe. «Le casque "Adrian"». Les Français à Verdun - 1916 (em francês). Consultado em 4 de agosto de 2024 
  8. a b c d e NamWadmin (7 de setembro de 2015). «The Brodie Helmet». National Army Museum, London (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2024 
  9. «Brodie Helmet». Canadian Militaria (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2024 
  10. Equipe do site (31 de outubro de 2019). «The Brodie Helmet: Untold Stories of the First World War through an examination of our objects». Glenside Hospital Museum (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2024 
  11. a b «Steel Helmet, MK I Brodie pattern: British Army». Imperial War Museums (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2024 
  12. a b c d Equipe do site (8 de janeiro de 2024). «The Rise and Fall of the 20th Century Steel Helmet». Adept Armor (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2024 
  13. a b c «Military helmets - an introduction». Australian War Memorial. Consultado em 8 de agosto de 2024 
  14. a b «Steel Helmet / 1.0 / encyclopedic». 1914-1918-Online (WW1) Encyclopedia (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2024 

Ligações externas

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  • «Comparação do Brodie Mk1 e M1917» (em inglês)  no YouTube
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