Bairro das Estacas

Bairro das Estacas
Bairro das Estacas
Vista a partir da Avenida Frei Miguel Contreiras
Nomes alternativos Bairro de habitações económicas de São João de Deus
Tipo Arquitectura Civil / Bairro
Arquiteto Rui Jervis Atouguia
Sebastião Formosinho Sanchez
Urbanista
João Faria da Costa
Paisagista
Gonçalo Ribeiro Telles
Prémios
Precedido por
Restelo, 23–23A
1952
Prémio Valmor
1954
Sucedido por
Infante Santo, 70 (Bloco 2)
1956
Património Nacional
DGPC 330405
SIPA 24670
Geografia
País Portugal Portugal
Cidade Lisboa Lisboa
Avenida Frei Miguel Contreiras
Rua Bulhão Pato
Rua Antero de Figueiredo
Rua Teixeira de Pascoaes
Distrito Lisboa
Freguesia Alvalade
Coordenadas 38° 44' 47" N 9° 08' 15" O
Mapa
Localização do edifício em mapa dinâmico

O Bairro das Estacas, situado no Bairro de Alvalade, também conhecido como estudo de conjunto da célula 8, é considerado um exemplo de arquitectura moderna para a época. Apesar de propor estrutura habitacional sobre pilotis e de abrir o quarteirão, não quebra com o pedido no plano, mudam apenas o nome do logradouro, que passa a ser um local público.[1] Conseguimos identificar no Bairro de Alvalade conceitos urbanísticos diversos de outros modelos de cidade, no entanto, não se limita a reinterpretar esses modelos, faz uma síntese de todos os elementos e influências.[2] Este bairro situa-se no concelho de Lisboa pertencendo à zona do centro da cidade, limitado pela linha do comboio, Avenida Almirante Gago Coutinho, Avenida dos Estados Unidos da América e Avenida da República. A zona de Alvalade desde os seus primeiros estudos que é entendida como uma zona de grande privilégio à expansão da cidade, uma vez que os seus terrenos eram fáceis de negociar e pelo seu amplo espaço que dava a oportunidade de desenhar traços generosos. Os primeiros estudos de desenho urbano acontecem de 1938-39 sendo concluído em 1942 com a participação do arquitecto-urbanista Faria da Costa, sofrendo em 1944 grandes alterações.[3]

O projecto dos arquitectos Rui Jervis Atouguia e Sebastião Formosinho Sanchez propõe uma leitura diferente do habitual. Nesta sugerem a abertura do quarteirão nos topos, criando espaços verdes e espaços públicos, contrariando o tradicional quarteirão totalmente fechado. Outra das propostas inovadoras é a elevação do edificado sobre pilotis.Estes alternam com espaços comerciais, proporcionando espaços abertos e fechados permitindo uma livre circulação pedonal.[4]

Bairro das Estacas

A proposta do Bairro das Estacas baseava-se na construção de uma série de blocos de edifícios de habitação, perpendiculares a estrada, paralelos entre si que viriam a substituir os grandes quarteirões que haviam sido previstos no plano. Estes blocos estão assentes sobre pilotis, que deu origem ao seu nome, permitindo a ocupação da sua parte inferior como um extenso espaço verde, dando prioridade ao percurso pedonal e qualificando a mesma zona. Os arquitectos responsáveis pela concretização deste projecto, como já identificados, foram Ruy Jervis Athouguia e Sebastião Formosinho Sanches, sendo este bairro premiado na Bienal de S. Paulo bem como prémio Municipal de Arquitectura de 1954, uma vez que rompeu com o modelo de arquitectura tradicional, que tanto era o gosto no Estado Novo, afastando-se de uma arquitectura de regime para o modernismo.[4]

Também designado por Zona Comercial a opção por vazar o piso térreo fez com que fosse possível o acesso directo aos logradouros, ocupando-os com comércio, estes passaram a ser também tratados como espaços verdes de lazer, ficando deste modo a ser espaços de utilização pública, que foi objeto do projecto paisagístico de Gonçalo Ribeiro Telles.[4]

Como já havia sido referido, os edifícios organizados em blocos são desenvolvidos segundos os cinco pontos para uma nova arquitectura que Le Corbusier defendia, a cobertura em laje coberta por chapa ondulada permitindo que o desenho dos objetos permanecem puros, grandes vãos em comprimento e varandas corridas moduladamente interrompidas com grelhas de betão, com quebra luzes verticais na fachada poente de maneira a controlar a incidência solar. São tornados como dados programáticos os valores da topografia, da insolação, do programa, das zonas verdes úteis, da racionalidade e do funcionalismo.[5]

A construção deste bairro deu-se por finalizada em 1951, sendo a novidade o edifício habitacional do lote 1, que se apresenta como um bloco de doze pisos, assente sobre pilotis, fazendo a ligação da célula 8 à Avenida de Roma.[6]

O afastamento da construção tradicional, com a abertura dos quarteirões fazem a diferenciação entre as ruas principais e as secundárias. A libertação do solo, a disposição do edificado por causa da insolação, bem como, as vistas muito mais apelativas são um novo legado na arquitectura moderna. Os vários edifícios fundem-se, formando um conjunto habitacional de maior volume possibilitando do que o tradicional, a abertura de espaços verdes com a possibilidade da passagem de peões é outra das características da arquitectura moderna. Na construção do edificado verifica-se a repetição dos elementos, tornando-o interessante. A materialidade do conjunto consiste numa estrutura de betão armado, pilares, vigas e lages maciças; a cobertura é também em lage de fibrocimento ondulado e possui o algeroz ao centro.[7]

O Bairro das Estacas passa a ser assim também considerado um paradigma de Alvalade devido à opção dos arquitectos por elevar o volume de maneira a criar um vazio no seu piso térreo, o que fez com que houvesse uma maneira nova de ver os logradouros, uma vez que se tornaram espaços públicos.

Referências

  1. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 10
  2. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 25
  3. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, pp. 9-10
  4. a b c Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 99
  5. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 110
  6. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 129
  7. Athouguia, R., & Sanches, F. (1954). Blocos de Habitação - Célula 8 do Bairro de Alvalade. Arquitectura, A. XXVI, 2ª Série, nº 53, 2-5

Ligações externas

  • Bairro das Estacas na página da Câmara Municipal de Lisboa
  • v
  • d
  • e
1902 — 1909
1910 — 1919

1910 Fontes Pereira de Melo, 30 · 1911 Alexandre Herculano, 25-25A · 1912 Villa Sousa · 1913 República, 23 · 1914 Fontes Pereira de Melo, 28-28A · 1915 Liberdade, 206-218 · 1916 Tomás Ribeiro, 58-60 · 1917 Viriato, 5 · 1918 · 1919 Duque de Loulé, 47

1920 — 1929

1920 · 1921 Cova da Moura, 1 (restauro) · 1922 · 1923 República, 49 · 1924 · 1925 · 1926 · 1927 Pensão Tivoli · 1928 Palacete Vale Flor · 1929 Moradia António Bravo

1930 — 1939

1930 Castilho, 64-66 · 1931 Infantaria 16, 92-94 · 1932 · 1933 · 1934 · 1935 · 1936 · 1937 · 1938 Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima · 1939 Columbano Bordalo Pinheiro, 52

1940 — 1949

1940 Edifício do Diário de Notícias · 1941 · 1942 Imprensa, 25 · 1943 António Augusto de Aguiar, 9 · 1944 Pedro Álvares Cabral, 67 · 1945 Sidónio Pais, 14 · 1946 Casal Ribeiro, 12 · 1947 São Francisco Xavier, 8 · 1948 · 1949 Artilharia Um, 105

1950 — 1959

1950 Duarte Pacheco Pereira, 37 · 1951 · 1952 Restelo, 23–23A · 1953 · 1954 Bulhão Pato, 2-14 - Bairro das Estacas · 1955 · 1956 Infante Santo, 70 (Bloco 2) · 1957 Estados Unidos da América, 12-40A (Lote 367) · 1958 Edifício dos Laboratórios Pasteur · 1959

1960 — 1969

1960 · 1961 · 1962 Almirante António Saldanha, 44 · 1963 · 1964 · 1965 · 1966 · 1967 General Silva Freire, 55–55A · 1968 · 1969

1970 — 1979

1970 Edifício América · 1971 Braancamp, 9 - Edifício Franjinhas · 1972 · 1973 · 1974 · 1975 Sede, Jardins e Museu da Fundação Calouste Gulbenkian · 1976 · 1977 · 1978 Maria Veleda, 2-4 · 1979

1980 — 1989

1980 Castilho, 223-233 / Dom Francisco Manuel de Melo, 2-8 · 1981 · 1982 Encosta das Olaias · 1983 · 1984 Edifício do Banco Fonsecas & Burnay · 1985 Edifício do Banco Credit Franco Portugais, Francisco Gentil 6-6E / 8-8E · 1986 · 1987 Instituto Jacob Rodrigues Pereira · 1988 Liberdade, 222 · 1989 Professor Queiroz Veloso, 2-38

1990 — 1999

1990 Século 107-109 / Academia das Ciências 2 / Horta 2-6 · 1991 Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa · 1992 · 1993 Complexo das Amoreiras · 1994 Professor Cavaleiro Ferreira, 4, / José Escada, 3 · 1995 · 1996 · 1997 Edifício Bagatela · 1998 Pavilhão de Portugal, Pavilhão do Conhecimento dos Mares · 1999

2000 — 2009

2000 Edifício C8 da FCUL · 2001 Atrium Saldanha · 2002 Edifício da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Edifício II do ISCTE - IUL · 2003 · 2004 Terraços de Bragança, Art''s Business & Hotel Centre, Entrada Norte de Lisboa (qualificação) · 2005 Edifício Sede da Vodafone, Quinta das Conchas e dos Lilases (qualificação) · 2006 · 2007 Estação Terreiro do Paço, Hospital da Luz · 2008 Escola Superior de Música de Lisboa, Estação Metropolitana e Ferroviária do Cais do Sodré · 2009 Edifício do Banco Mais

2010 — 2019
2010 Combro, 125-129 (reabilitação) · 2011 Escola Secundária Vergílio Ferreira, Escola Secundária Rainha Dona Leonor, Escola Básica Francisco de Arruda · 2012 · 2013 ETAR de Alcântara · 2014 Museu do Dinheiro · 2015 Terraços do Carmo · 2016 Cineteatro Capitólio - Teatro Raul Solnado (reabilitação) · 2017 Edifício Sede da EDP, Terminal de Cruzeiros de Lisboa · 2018 · 2019